Sobre o LAAVA
Hoje, após ler a monografia da Noara - Coletivo LAAVA - reparei que minhas impressões sobre o grupo artístico da UDESC estavam erradas - ou talvez não, estavam tão certas que meu próprio desgosto ao grupo era o que eles gostariam como "gosto". O que quero dizer é que meus argumentos quanto esse estranhamento se desenvolveram e amadureceram. E este foi o depoimento que dei à Noara sobre o grupo:
O LAAVA é, no final das contas, uma potência, um local móvel - como um platô - onde somente acontecem as coisas. Mas esse platô não existe, não é físico; não é um grupo formado de órgãos, é um grande corpo sem órgãos, fluxo de acontecimentos sem estrutura. O próprio LAAVA é uma espécie de devir onde ocorrem devires. Eu tenho a impressão que se dá um nome ao coletivo apenas para consolidar o fator coletivo - como uma alcateia, uma manada, chiqueiro, enfim, no entanto os lobos, vacas e galinhas não reparam, necessariamente, que ali se forma um coletivo estruturado e organizado, o coletivo simplesmente é enquanto é, porque as criaturas estão ali, e fazem o que têm que fazer quando têm que fazer e enquanto têm que fazer. O maior defeito do LAAVA, talvez, seja justamente o vínculo institucional, que forçava uma burocracia dificultando que ali realmente surgisse a liberdade, o rizoma e a homogeneidade entre os participantes; muito disso acabava por ficar na utopia e somente no discurso por causa das obrigações como um programa de extensão de uma universidade - queria-se que não, mas tinha um chefe, os principais subordinados que tinham suas obrigações burocráticas, e os demais participantes. No mais, o LAAVA, me parece agora que foi um agente de produção de intensidade, como que querendo aumentar a potência de agir de todos e tudo aquilo que ele afetava - os participantes, seu gentil, o helton e sua Kombi, os amigos dos participantes, qualquer transeunte próximo às tocatas e até a instituição UDESC. Claro, como é sempre apenas experiências, nem sempre se aumentava a potência de agir, em alguns momentos provocou tristezas, e era simplesmente impossível prever. Mas como a experiência é que era o principal objeto de arte, o LAAVA atendeu perfeitamente à sua proposta - justamente por não ter deixado nada como resultado o discurso de grupo fenomenológico se consolidou cada vez mais. E de tanta liberdade que ele oferece, arrisca-se a ser livre em ser odiado.
Tenho a impressão agora, que não estou mais envolvido com o coletivo, que ele acabou. Mas na realidade ele nunca existiu direito, e por isso pode sempre estar presente, como disse Alberto Caeiro.