Finalmente tinha conseguido me encontrar com ela, já não agüentava mais aquele silêncio ensurdecedor. Ela estava me ignorando desde o dia em que eu me declarei pra ela, e isso estava me matando! Agora lá estávamos nós, um de frente para o outro. Se fosse um filme romântico, estaríamos há alguns minutos nos olhando diretamente nos olhos, e eu pegaria a mão sua no instante de me explicar. Mas não, isso, infelizmente, é a vida real. Quando eu batia os olhos no dela, e aquelas esferas castanhas com branco e preto estavam mirando os meus, imediatamente eu olhava pra qualquer outra coisa que estivesse em volta dela, exceto a própria. E pegar na mão? Nunca.
- Então, você queria falar comigo? - ela me disse, quase que como um desafio.
- Sim, sim. - Nessa hora, todas aquelas coisas que ensaiei, pensei, escrevi, pareciam ridículas demais para serem ditas, então improvisei. - Senti muita falta de ti. Não por te querer como minha namorada. Nem é isso! Mas como minha amiga, caramba. Eu gosto de ti, independente do que tu seja pra mim, entende? E se eu me declarei pra ti, a última coisa que eu queria era que tu se distanciasse de mim! Imaginei que, como tu é.... era, sei lá, minha amiga, ias me entender. Tu era a pessoa que eu achava que melhor me entenderia. Se eu gosto tanto assim de ti, é porque quero estar ainda mais perto de ti, e não mais distante.
- Mas acontece que eu fico nessa situação desconfortável, achando o tempo todo que estou machucando você.
O tom de voz dela tinha melhorado consideravelmente, ela parecia mais amigável, mais como aquela grande amiga que ela sempre foi pra mim.
- E se eu nunca tivesse te dito nada, tudo continuaria na mesma, não?
- Ah, aí nunca se sabe, né? Talvez eu acabasse percebendo e me distaciasse do mesmo jeito.
- Não, porque eu já gosto de ti assim há algum tempo e tu nunca percebeu, nunca mudou. Eu sou o mesmo, tu é a mesma, inclusive nossos sentimentos são os mesmos! Não tem porque tu me evitar. Me odeias agora, por acaso? - me impacientei. A vontade de a ter como amiga e de beijar aquelas bocas finas e rosadas estavam me tirando o raciocínio e pondo o insinto em primeiro plano.
- Não! Não é isso... Eu só não queria machucar você. E nem queria te dar esperançar, porque eu não sinto o mesmo.
- Ora! Era só dizer e pronto. Dói, mas que se dane. Sabe o que eu acho? Essas dores servem para o coração, assim como a musculação para o corpo. Dói, mas faz o coração mais forte.
Não consigo nem me lembrar o que houve depois, só sei que em pouco tempo estávamos rindo e filosofando sobre o mundo, universo e os bichinhos. Eu sempre discordando dela, como de costume, só pra manter a conversa e os sorrisos de indignação.