Ontem eu tava pensando em algo interessante. Não lembro o que era, senão escreveria sobre ele, mas lembro que tomou meus pensamentos durante o banho inteiro.
Outro dia eu também fiz um versinho, era bonito, nem romântico, nem triste, nem alegre e nem raivoso, era só um versinho. Não consigo me lembrar nem sobre o que dizia o versinho, mas lembro que gostei e pensei "quando chegar em casa tenho que escrevê-lo!". Cheguei em casa. Não escrevi, porque não me lembro.
Um moço certa vez disse "O esforço pra lembrar é a vontade de esquecer", e meu professor Marquito disse que não importa se é Nietzsche, Rodrigo Amarante ou Balu, o urso, o que importa é que se a frase te toca e não pede explicação ela é passível de citação e utilidade e interesse.
Ah! Me lembrei sobre o que eu tava pensando ontem, justamente sobre o que as pessoas dizem, quem diz, e o peso que essa frase dita por uma pessoa considerada importante tem pelo simples fato de ter sido dita, ou escrita, por alguém importante. Ou melhor, alguém que se considerou importante.
Eu detestava aquele ambiente. Todo branco e todo limpo e todo certinho e todo tranqüilo, não conseguia pensar em nada mais assustador. De longe se ouvia aqueles barulhos. Eu sabia que lá havia alguém sofrendo, querendo chorar sem poder pra não ser chamado de covarde ou outros nomes atribuídos a pessoas que admitem não gostar das coisas desgostosas.
Saiu uma criança pelo corredor do qual mais tarde eu teria que entrar. Ela não parecia machucada, mas com certeza injuriada. Não conseguia sorrir, nem se a pagassem ela sorriria. Meu coração queria bater forte até ter um ataque cardíaco, mas eu mantinha o semblante calmo, assistindo aqueles desenhos insuportáveis das 10 da manhã na televisão.
- Lui. - ouvi me chamar.
Minha tia olhou pra mim com aquele olhar de zombo de quem diz "te arromba, agora é a tua vez."
Passei pelo corredor e entrei na sala de tortura. Era um cômodo enorme, sem parades mas cheio de divisórias que não chegavam até o teto. Tudo branco, exceto pelos ferros dos equipamentos que eram cromados. Todo mundo vestido de branco. Só de branco. Sapato branco, camisa branca, calça branca, jaleco branco, máscara branca, touca branca, eles queriam mostrar que o sangue não jorrava, mas escorria lentamente pelo chão branco até um ralo sem deixar marcas nenhuma.
Sorri para o moço que me ofereceu assento e obedeci. Mandou que eu abrisse a boca, automaticamente também fechei os olhos. Pôs uma luva fedorenta de borracha nas mãos e começou a mexer nos meus dentes. Desconfortável, mas ainda não doloriado. Pegou um daqueles equipamentos - não faço idéia de qual era, pois estava de olhos fechados, mas pude ouvir o barulho -, mirou em minha boca e começou a espirrar água. Inutilmente, porque depois pôs um cano, pediu para que eu segurasse, e esse sugou toda a água que ele tinha posto e mais a saliva que naturalmente era produzida pela minha boca.
Foi só isso. Não usou nenhum daqueles aparelhos que fazem barulhos como de morcegos copulando, só pôs e tirou água da minha boca.
- Vamos ter que pôr aparelho. - disse.
- Quanto tempo vou ficar usando aparelho? Porque tenho um colega que já usa faz três anos.
- Não te preocupa, cada caso é um caso
Desse momento em diante minha vida nunca mais foi a mesma.
Cada caso é um caso ele disse. Significa que nada é, tudo pode ser. Dentes brancos não são bonitos, depende da utilidade que dou aos meus dentes. Dentes saudáveis só agradam aos dentistas e às garotas, e se eu não depender dos dentistas e conhecer uma garota que goste de dentes podres, posso nunca mais me importar com eles, desde que eu seja feliz.
Cada caso é um caso. Então eu posso dizer que matemática é inútil e química é uma mentira. Já ouvi muitos doutores e mestres falando que Nietzsche descobriu isso, mas eu já havia descoberto com 12 anos de idade.
Não existe verdade, porque cada caso é um caso.
Não me pergunte o que fazer, porque depende. Não sei o que dizer e me orgulho, porque nem sempre. Não me importo nem um pouco com o que dizem, porque pode não ser. Cada caso é um caso.
E foi assim que meu dentista me influenciou mais que todos professores de álgebra.
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1 comentários:
Eu ainda não li seu texto e por isso não vou falar dele, hehe, só vim responder sobre o título. Então, não significa absolutamente nada, é só porque eu gostei do "Interlúdio para Oboé em Sol maior" que eu lembrava como "Interlúdio em Oboé maior", apenas. Aí eu pensei em mudar e como o texto é sobre o mar, pensei em subterfúgio. E é isso :B
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