Dois espelhos, duas pias, distantes entre si.
Conheci uma menina em São Paulo. Fomos até a casa de uma amiga dela dormir. A casa era grande, antiga, chão de pedra, dois andares. Dormimos num quarto grande, de sei lá quem, só tinha uma cama de casal, um guarda roupa de duas portas, e uma mesa grande, de madeira, ainda assim tinha muito chão sobrando. Me chamou muito a atenção foi o banheiro desta casa. Muito grande também. Chão de um marrom quase laranja, cor de barro, paredes beje, cor de areia clara, certo tom de amarelo, meio papel velho. Um box, a um canto, bem apertadinho, ao lado, a privada, bem aprtadinha também, e em frente deles e a pia e o espelho, por entre um chãozão comprido, vazio, espaço suficiente pra se girar de braços abertos. A pia tinha uma altura normal, mas o espelho não ficava exatamente acima da pia, em frente ao rosto de quem usa a pia. Por que? Fiquei contente até, certo aliviado, pois que não gosto de olhar aquele olho vazio que se diz ser meu, aquele olho sem olhar, já que o olhar vem de cá do meu olho, e aquele ali que me vê do outro lado do espelho na realidade não me vê, e essa não coisa, não entidade, que tem olho, mas não vê, e que se propõe passar por mim, esse aí, detesto ficar olhando, por isso gostei do espelho, na altura certa, mas bem ao lado equerdo da pia. Era necessário me desviar uns três passos pra esquerda até colocar minha cara na frente daquele espelho.
Fiquei encantado com o banheiro da casa.
Fiquei encantado com o banheiro da casa.
A garota com quem dormi, uma linda morena de pele clara, olhos escuros, boca pequena e macina, cabelos finos ondulados, seios fartos, suculentos, pernas grossas, fortes, de um beijo habilidoso tal que... de boa fala, voz grave, firme, inteligente, cantora e ainda toca violão; gostou até de uma música minha que, em época ainda estava incompleta, mas terminada cheguei a dedicá-la a essa menina, chamei "Buquê de Gabiroba", mas acho que ela nunca ouvirá a música. Esse é um problema das relações casuais, falta continuidade da intimidade; também é um grandes charme, mas nos dá uma angústia urgente: se relacionar com algém que se sabe que nunca mais verá novamente, é sentir a ausência de uma presença, quase como o contrário da falta e do princípio do desejo de Freud. A dona da casa, uma menina baixa, linda, de olhar sereno, olhos claros, azuis ou verdes, mas claros e fundos, cabelos claros, como que louros ou castanhos bem claros, mais grossos que o de sua amiga, talvez por isso o usasse curto, talvez tivesse corte mais curto que os meu, batido, feito à maquina. Vestia roupas leves, coloridas, não usava jeans nem t-shirt, sandálias de couro ou outro material, que não lona ou outras borrachas esquisitas. Elas se conheciam há poucos dias, talvez semanas, mas não mais que meses, não eram tão próximas; eu as conheci ali, naquele sábado, e depois do domingo seguinte nunca mais as vi.
Fico com saudade. Sempre dá saudade.
Por que me veio isso agora à mente? Meses depois? Ontem conheci a casa de uma amiga nova, e o banheiro é exatamente igual ao da casa em SP. Grande, azuleijado em escalas de um mesmo tom, box e privada do mesmo lado, apertadinhos, um chão imenso os divide da pia e do espelho, e a pia e o espelho: dividos. Será que existe mesmo algum tipo de padrão arquitetônico que empatize com minha angústia perante escovar os dentes olhando para o tal mim mesmo? Será que algum dia, se cuturalizou essa mania, via algum rei que sentia o que sinto, que deu ordens pra que construíssem banheiros assim por todo o reino, e devido seu carisma e retórica, convenceu todo um grupo de gentes a usar a pia e o espelho separados de si? Ou será que de São Paulo à Floranópolis existe um erro algorítmico no trabaho de mestres de obra e pedreiros, fazendo duas casas distantes entre si se coincidirem dessa maneira, e se revelarem através de mim?
Fico com saudade. Sempre dá saudade.
Por que me veio isso agora à mente? Meses depois? Ontem conheci a casa de uma amiga nova, e o banheiro é exatamente igual ao da casa em SP. Grande, azuleijado em escalas de um mesmo tom, box e privada do mesmo lado, apertadinhos, um chão imenso os divide da pia e do espelho, e a pia e o espelho: dividos. Será que existe mesmo algum tipo de padrão arquitetônico que empatize com minha angústia perante escovar os dentes olhando para o tal mim mesmo? Será que algum dia, se cuturalizou essa mania, via algum rei que sentia o que sinto, que deu ordens pra que construíssem banheiros assim por todo o reino, e devido seu carisma e retórica, convenceu todo um grupo de gentes a usar a pia e o espelho separados de si? Ou será que de São Paulo à Floranópolis existe um erro algorítmico no trabaho de mestres de obra e pedreiros, fazendo duas casas distantes entre si se coincidirem dessa maneira, e se revelarem através de mim?
No mais, o que me importa, fico feliz em conhecer os banheiros das amigas, é muita intimidade.
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