fazer filosofia, criar uma história, compor, não é somente falar de si: deve-se usar o pensamento pra fazer acontecimentos (encontros?) se tornarem realmente experiências; usar da linguagem (sintaxe?) para criar um mundo, para fugir do mundo pelo mundo: pega-se esse mundo comum e o reordena-se os sentidos e percepções para que o mundo seja só seu. não para que somente ele possa viver naquele mundo, como uma espécie de egoísmo infantil, mas para afirmar-se no mundo real, como sujeito (só quem tem um mundo seu sente o que é, de fato, existir). fazer filosofia, arte, enfim, é isso: criar mundos, não repetir o mesmo mundo de sempre.
são os três estágios do leão de zaratrusta: de começo somos meros camelos, que carregam o mundo nas costas, não vivem aquele mundo: não estão dentro, mas sob o mundo); depois nos tornamos leão: questionamos tudo, negamos tudo, o forte "não" que nega (aqui aparecem os primeiros resquícios de um mundo, denega-se o mundo em que se está, afim de criar um melhor pra si: nega-se os valores dos pais, da religião, da escola, da televisão; encontra-se os valores dos filósofos, da música, da rua. por fim, depois de recusar tudo, deve-se criar tudo de novo: é a criança. a criança brinca, ri, cria personalidades e temperamentos com bonecos, cria castelos de reinos distantes em sofás; a criança é um romancista, não interessa aquele dia-a-dia sem graça, mas agradável em que já se vive, mas sim de criar um mundo de aventuras em que sexo, violência, superpoderes (que desobedecem as leis naturais) e a própria morte (inclusive os bonecos em que se brinca na primeira pessoa morrem, como se "eu" morresse) é permitida porque não é eterno esse mundo.
(aqui noto alguma coisa de ritornelo, todos os exemplos que uso para expandir a ideia de que se faz filosofia para sair dela; o eterno retorno)
no entanto, ainda reflito sobre mim mesmo (uso da ferramenta que de pouco em pouco aprendo a manusear): preciso me tornar criança, acho que estou exagerando no meu leão.