as calças e o cinto

o cinto mantém as calças arriadas. o cinto nos dá certeza de que nossas roupas de baixo - que estão próximas demais de nossas vergonhas - sejam expostas. o cinto é a auto-confiança: se ninguém vê minha vergonha, sou sem-vergonha, sem-segredos, sou a confiança em si. sem calças sou exposto, sou nu, desprotegido, igual. odeio ser igual. não eu, mas 'eu'. o 'eu' de todos nós, a ilustração do que é ser um 'eu'. enfim, todos 'eu' odeio ser igual. quero ser somente eu, um eu que ninguém mais possa ser, e por isso preciso das minhas calças. essas calças precisam se adaptar às vergonhas que quero esconder. digo, quero que não existam (esconder é exilar da existência). as calças são mais importantes que as camisetas, soutiens, chapéus, e qualquer outra vestimenta. as mulheres têm vergonhas nos bustos, os homens, não. por isso não podemos dar valor à 'pessoa' (que não é só homem, nem só mulher, é a pessoa sem gênero) a partir do busto. além disso, ficamos confusos por ver outras pessoas, outro "tipo" de pessoas, ousaríamos dizer, que não têm vergonha dos bustos femininos. andam para lá e pra cá com as tetas à mostra, como se não fosse importante. imagine só: as tetas sem importância? seria triste demais percebermos a loucura que é pôr borracha debaixo da pele da teta para fazê-la parecer mais dura. que tipo de louco gosta de borracha encapada com pele de gente, parecendo um peito pequeno gigante? peito com silicone não parece peito grande, mas sim um pequeno peito gigante. é quase uma imagem surrealista. por isso já disse o pequeno rapaz: mamilos são polêmicos. por isso não o podemos usar de referência. já as vergonhas, a genitália, essa sim precisa se manter intacta, imaculada, invisível. a genitália é uma santa, não direis seu nome em vão, não cultuarás vossa imagem! as genitálias precisam se manter existindo somente no mundo das ideias. o maravilhoso mundo criado por platão. o nirvana dos ocidentais. o orgasmo genital é o alcance ao mundo das ideias da genitália. o orgasmo é o corpo sensível entrando em contado com o mundo das ideias; é quando eu e meu outrem se encontram e conversam; é devir. andar à rua sem calças seria estar em estado alucinatório o tempo todo. como se todos fôessmos tão iguais que seria absurdo não amar as diferenças.
e o que é o cinto? a segurança de que as calças vão se manter lá onde a queremos. o cinto é o pai em nós, que mantém os dizeres da boa mãe nos lugar certo. a mãe dá as ideias e o pai as põem em vigor. o pai dá cintada para dar razão a seu argumento mal refletido - é que sua mãe o ensinou assim, e nunca soube entender por que; as mulheres são inteligentes demais, são mais empáticas, quase como se lessem nossos pensamentos (claro que vez ou outra elas interpretam errado o que leêm, como qualquer leitor o faria). nós homens jamais conseguiríamos entender o que pensam as mulheres, por isso inventamos tantas ferramentas para mantê-las caladas. as ferramentas, o pensamento sistemático é nosso. por isso inventamos armas para fazer os outros nos entender; ou então damos nome a nossa forma de pensar tão complicada: filosofia, matemática, artes, biologia, etc, etc. não sabemos bem o que pensar. por isso vestimos os cintos e mantemos nossa calça onde ela deve estar, porque nossa mãe disse para fazermos assim e assim será feito. não por violência que assim fazem as mães, mas por carinho, por empatia, ela sabe bem que nós não gostaríamos de ter nossas vergonhas expostas assim, de qualquer maneira, para qualquer um.

(a metáfora, a poesia, a piada explicam tão bem a realidade quanto as ciência. é só percebermos o quanto nos afetam tais maneiras de explicar o mundo: a metáfora acelera o processo de significação; a poesia faz relações que nos alcançam em outro lugar que não no cognitivo, no que diz respeito ao corpo, mas ao que diz repeito à alma; a piada nos atinge em cheio o mais inexplicável de nós mesmos, a piada - quando faz rir - afeta outrem ultrapassando nosso corpo.)

mas antes de podermos, nos permitirmos, e não mais reparar em andar nus, os homens devem andar de saia.

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Ceyron Louis

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