Aos motoristas dos ônibus 185 e 665.
- Calme, motorista! São pessoas aqui atrás, não pedras.
- Ora, não és homem o suficiente pra te segurar com tua própria força?
- Se tua masculinidade depende de braços fortes, se teu falo depende de máquinas potentes e velozes, isso é problema teu e de tua homossexualidade recalcada. Quanto a mim, preocupo-me com outros aspectos de minha subjetividade que não dizem respeito a querer demonstrar potência sexual durante uma viagem de ônibus. Argumento nesses termos, claro, por imaginar estar me comunicando com outra pessoa, e assim tento te afetar e alcançar tua compaixão, tua empatia -enfim, tua humanidade; se eu tivesse imaginado que entraria em um veículo de carga pilotado por um jumento - que só possui a força e qualidade dos pelos para atrair as fêmeas - teria trazido comigo um chicote e uma cenoura.
Agora trate de dirigir esta máquina - máquina gigante, barulhenta, potente, movida por energia e pressão, adjetivos que pensas ser teu por possuí-la - com calma, pois com esta chuva és capaz de nos matar a todos. E, sinceramente, não quero morrer como um qualquer e ao lado de um humano que age conforme os piores defeitos de um jumento (antes tu fosse obediente e leal, ou outras qualidades próprias de um equino infértil que minha limitada percepção de gente impede que eu perceba).
Sem mencionar o barulho, a multidão, o cisco no olho, a mão estorvada pelo guarda-chuva (sua reponsabilidade de me segurar nos apoios internos do ônibus inteferida), tudo conspira para que eu nem mesmo consiga sentir o prazer de ouvir as músicas que me preparei para distrair-me da viagem nossa de todos os dias. Os ônibus mal-construidos (talvez pelos mesmos homens-jumento; ou mal escolhidos pelos homens-jumento) completamente fechado a fim de evitar que a chuva adentre, quente e abafado como deve ser dentro do bico de um avestruz por debaixo da terra em pleno verão, ainda é incapaz de evitar que poucas gotas de chuva nos atinja, não servindo para refrescar, só para molhas as páginas dos livros daqueles que leêm, ou os olhos dos que tentam olhar a paisagem (mar de carros que são a única causa do trânsito cujo ônibus não pode vencer, e faz da insuportável viagem também interminável).
A chuva, claro, tem seu charme, sua estética. Podemos chamá-la de feia, melancólica, chata, enfim, cada qual com sua percepção, no entanto torna todo o cotidiano contemporâneo disfuncional. Para evitar chegar encharcado aonde quero chegar, não posso ir de bicicleta, por isso escolho outro meio, como o carro, ou o ônibus. piso em poças, ficando com os calçados, e as meias, e as barras das calças (poderia ir de bermuda, ou saia mais curta, mas aí me bate o frio nas canelas!) carregadas d'água (que ao final do dia ainda podem me provocar fungos, e outros desconfortos). Resistir (conviver com) a chuva com alegria é um desafio.
- Ora, não és homem o suficiente pra te segurar com tua própria força?
- Se tua masculinidade depende de braços fortes, se teu falo depende de máquinas potentes e velozes, isso é problema teu e de tua homossexualidade recalcada. Quanto a mim, preocupo-me com outros aspectos de minha subjetividade que não dizem respeito a querer demonstrar potência sexual durante uma viagem de ônibus. Argumento nesses termos, claro, por imaginar estar me comunicando com outra pessoa, e assim tento te afetar e alcançar tua compaixão, tua empatia -enfim, tua humanidade; se eu tivesse imaginado que entraria em um veículo de carga pilotado por um jumento - que só possui a força e qualidade dos pelos para atrair as fêmeas - teria trazido comigo um chicote e uma cenoura.
Agora trate de dirigir esta máquina - máquina gigante, barulhenta, potente, movida por energia e pressão, adjetivos que pensas ser teu por possuí-la - com calma, pois com esta chuva és capaz de nos matar a todos. E, sinceramente, não quero morrer como um qualquer e ao lado de um humano que age conforme os piores defeitos de um jumento (antes tu fosse obediente e leal, ou outras qualidades próprias de um equino infértil que minha limitada percepção de gente impede que eu perceba).
Sem mencionar o barulho, a multidão, o cisco no olho, a mão estorvada pelo guarda-chuva (sua reponsabilidade de me segurar nos apoios internos do ônibus inteferida), tudo conspira para que eu nem mesmo consiga sentir o prazer de ouvir as músicas que me preparei para distrair-me da viagem nossa de todos os dias. Os ônibus mal-construidos (talvez pelos mesmos homens-jumento; ou mal escolhidos pelos homens-jumento) completamente fechado a fim de evitar que a chuva adentre, quente e abafado como deve ser dentro do bico de um avestruz por debaixo da terra em pleno verão, ainda é incapaz de evitar que poucas gotas de chuva nos atinja, não servindo para refrescar, só para molhas as páginas dos livros daqueles que leêm, ou os olhos dos que tentam olhar a paisagem (mar de carros que são a única causa do trânsito cujo ônibus não pode vencer, e faz da insuportável viagem também interminável).
A chuva, claro, tem seu charme, sua estética. Podemos chamá-la de feia, melancólica, chata, enfim, cada qual com sua percepção, no entanto torna todo o cotidiano contemporâneo disfuncional. Para evitar chegar encharcado aonde quero chegar, não posso ir de bicicleta, por isso escolho outro meio, como o carro, ou o ônibus. piso em poças, ficando com os calçados, e as meias, e as barras das calças (poderia ir de bermuda, ou saia mais curta, mas aí me bate o frio nas canelas!) carregadas d'água (que ao final do dia ainda podem me provocar fungos, e outros desconfortos). Resistir (conviver com) a chuva com alegria é um desafio.
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