o bom suicida sabe que quando se finda a vida os problemas acabam, mas também as alegrias das possíveis resoluções. dar cabo à vida não diz respeito, necessariamente, à dificuldade de se resolver um problema, mas à falta de força para suportar uma potência demasiadamente grande que carrega e dá sentido ao corpo e à alma do sujeito, e leva-o sem saber exatamente para onde: eis a angústia da inespecificidade, nem mesmo a ideia de um futuro alegre serviria para convencê-lo de manter-se vivo. não é, nem nunca foi, questão de resolver os problemas, isso é trabalho de matemáticos e cientistas de epistemologia positivista, mas de não suportar uma potência.
por exemplo, alguém sem pernas cuja virtude é correr, cuja produção de alegria se dá em correr; toda sua vida, todo o seu ser, seu maior desejo, sua maior alegria é correr, como não pode fazê-lo, acaba por não suportar o desejo de fazê-lo, não a incapacidade de não fazê-lo. imagine que sua virtude fosse tocar flauta, de nada influenciaria a falta de pernas, portanto seria um problema mui fácil de superar. ora, bem poderia ele conseguir pernas mecânicas que o ajudassem a realizar o desejo de correr. existem soluções, mas sua potência, seu desejo não é de resolver o problema de ter pernas, mas o simples e puro amor por correr e correr somente. nesta ilustração ainda nos é óbvia a questão de que conseguir pernas mecânicas não é acessível à qualquer um, pois que isto demanda dinheiro, e tempo, e trabalho, e, inclusive, oportunidade (ignorando o fato de o sujeito acabar tendo que enfrentar o preconceito, seja positivo ou negativo, de não ter pernas). teria, então, o homem-sem-pernas, ter que trabalhar durante quase toda a vida sentado em frente a um computador, ou na caixa de um banco ou de supermercado, ou advogando, ou empurrando uma cadeira de rodas afim de imitar uma corrida, para enfim conseguir pernas? o desejo de correr não se dissipa enquanto se trabalha em outra coisa sentado, mas, sim torna insuportável a vida vivida em prol de uma vida que se quer viver, é quase como se o sujeito tivesse que se suportar morto por toda a vida para, enfim, poder viver sua amada corrida. ora, que se adie então esta morte!
por exemplo, alguém sem pernas cuja virtude é correr, cuja produção de alegria se dá em correr; toda sua vida, todo o seu ser, seu maior desejo, sua maior alegria é correr, como não pode fazê-lo, acaba por não suportar o desejo de fazê-lo, não a incapacidade de não fazê-lo. imagine que sua virtude fosse tocar flauta, de nada influenciaria a falta de pernas, portanto seria um problema mui fácil de superar. ora, bem poderia ele conseguir pernas mecânicas que o ajudassem a realizar o desejo de correr. existem soluções, mas sua potência, seu desejo não é de resolver o problema de ter pernas, mas o simples e puro amor por correr e correr somente. nesta ilustração ainda nos é óbvia a questão de que conseguir pernas mecânicas não é acessível à qualquer um, pois que isto demanda dinheiro, e tempo, e trabalho, e, inclusive, oportunidade (ignorando o fato de o sujeito acabar tendo que enfrentar o preconceito, seja positivo ou negativo, de não ter pernas). teria, então, o homem-sem-pernas, ter que trabalhar durante quase toda a vida sentado em frente a um computador, ou na caixa de um banco ou de supermercado, ou advogando, ou empurrando uma cadeira de rodas afim de imitar uma corrida, para enfim conseguir pernas? o desejo de correr não se dissipa enquanto se trabalha em outra coisa sentado, mas, sim torna insuportável a vida vivida em prol de uma vida que se quer viver, é quase como se o sujeito tivesse que se suportar morto por toda a vida para, enfim, poder viver sua amada corrida. ora, que se adie então esta morte!
alguns se matam pra trabalhar, outros se matam pra amar.