Tenho certeza que, quando me viu vindo em sua direção, e que eu o atropelaria, ele sorriu. Mas assim que percebeu que eu teria reflexo e habilidade o suficiente para parar o carro antes de o atingir, fez sério sua expressão do rosto, e até reclamou de meu descuidado, mui calmamente, e balbuciou qualquer coisa como que pedindo que eu prestasse mais atenção por onde dirigia.
Parece-me que aquele sorriso surgiu justamente do prazer da ideia de realizar o suicídio perfeito: isento de culpa. Pois que no acidente não há um assassino que mata, ou um suicida que se joga à morte, mas há apenas desatenção (talvez algum psicanalista chamaria de ato falho, mas quem pode culpar o inconsciente?). Julgariam-me por tê-lo matado, é claro, mas, caso o acidente obtivesse o sucesso, em nossas consciências - na minha viva, e na dele morto - não haveria culpa alguma, ele queria morrer. Eu não queria matar, porém, como qualquer adulto que tenha superado o desamparo infantil, sei o valor que é receber de alguém aquilo que se mais quer, seja amor, seja morte, e por isso não me seria caro para suportar minha existência esse fato de tê-lo matado, só fiz o que ele queria que fosse feito.
No entanto os suicidas são mal-vistos por todos, talvez inclusive por si mesmo, e estes que esperam a morte não, necessariamente, desejam forçar sua chegada, por isso se faz ideal o cenário de um acidente, pois o morto, por vezes, acaba por se tornar uma espécie de herói, (
("pobre coitado que sofreu os infortúnios da mais potente má sorte!") sem saber que o que julgam carrasco ("maldito desatencioso! Deve lhe ter faltado carinho em casa, a este mal-criado."), quem matou acidentalmente, é que é o verdadeiro herói. Todos os desejos foram realizados, exceto os dos homens corretos, de boa moral e índole, que criaram as regras que nos ditam ser extremamente errado - coisa de louco - querer morrer e não se importar por matar quem quer morrer.
("pobre coitado que sofreu os infortúnios da mais potente má sorte!") sem saber que o que julgam carrasco ("maldito desatencioso! Deve lhe ter faltado carinho em casa, a este mal-criado."), quem matou acidentalmente, é que é o verdadeiro herói. Todos os desejos foram realizados, exceto os dos homens corretos, de boa moral e índole, que criaram as regras que nos ditam ser extremamente errado - coisa de louco - querer morrer e não se importar por matar quem quer morrer.
Todos vamos morrer, uns pelo trabalho, outros por amor.
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