Sobre a polêmica do ENEM de outubro de 2013 e uma discussão acerca do público e do privado
"Enquanto se mantiver uma distinção absoluta entre a vida privada e a vida pública, não se avançará nenhum passo!", Guattari.
apesar de serem informadas pela tv, pela internet, pelos fiscais durante as provas, pelos professores nas aulas, muitos alunos ainda insistem em bater fotos com seus celulares,da prova do enem.
talvez até acreditem q ñ serão flagrados.
duas questões me chamam a atenção: por um lado, uma espécie de descuido, fazem que não foram informadas sobre tal regra, auto-sabotagem, ato falho, etc; por outro lado isso de não ligarem pras consequências, quase como se a vontade de obter bom resultado no enem, e com isso conquistar o que deseja - entrar na universidade pública -, ñ fosse maior q a vontade de descumprir a regra, de se arriscar. como qm parece ter menos medo de um acidente de carro em ato do q o gozo obtido por dirigir rapidamente; ironicamente é necessário q se crie mecanismos pra q pessoas ñ se arrisquem, ameçando-o com multas q retirariam-lhe os bens, o dinheiro, o poder de compra, o poder; no entanto, há potência sem vida? talvez na filosofia, na literatura, nas artes, mas não no trânsito.
a regra q tá sendo quebrada no caso do enem é de divulgação da imagem da prova do enem e do cartão de respostas. é proibido tornar público, via facebook, esse documento que é privado, a prova. Felix Guattari (1987) discute essa relação entre o privado e o público em "As lutas do desejo e a psicanálise", no livro Revoluão molecular, e afirma aforisticamente: "Enquanto se mantiver uma distinção absoluta entre a vida privada e a vida pública, não se avançará nenhum passo!" (p.25).
As prova do enem, do vestibular, dos concursos de ingresso tanto na universidade quanto em cargos públicos, são testes de passagem prum novo estágio da vida, de como ele aparece pros outros, pro público, um novo estágio da vida pública. quando um adolescente sai do ensino médio e ingressa na universidade deixa de ser, pra família, pros amigos, pros policiais, pras livrarias, etc, somente um estudante, se torna acadêmico, universitário; um concursado deixa se tornar um simples trabalhador civil, um empregado q vende desesperado sua mão de obra com pelo pavor do desemprego, da fome, e da morte sua e de seus familiares (Guattari, 1987. p.13) pra se tornar funcionário efetivo da máquina burocrática do estado, agora este sujeito recebe, sem o medo da fome, da miséria, de ser mal-visto, dinheiro pra manter o estado.
O acontecimento da prova, estar sentado em uma sala, cheio de gente, fazendo a mesma prova, etc, e todos os outros momentos anteriores e seguintes à prova são públicos, fazer a prova é privado, e isso não pode ser compartilhado. o sujeito que faz a prova deve fazer sozinho, mesmo tendo outras trinta pessoas na mesma sala. estas, aliás, são adversárias, concorrentes, pretendentes de uma mesma vaga, e devem ser "eliminadas", e há regras nesta luta, como em toda outra guerra, uma delas é não divulgar documentos privados: o cartão resposta, a prova.
o facebook é como uma janela pruma via pública, tão movimentada quanto a quantidade de "amigos" que se tem à lista do site. mas um outro olho, q ñ o nosso, ñ dos amigos, um olho sinistro olha de fora pra dentro dessa nossa janela, e tudo o que se mostra por essa janela, por esse mural, este olho não só vê, memoriza: os arquivos dos perfis do facebook, também do google, etc. a internet funciona assim: nos expomos porque queremos, estamos nos dispomos, nos colocamos disponíveis. como mídia a tv tem uma lógica diferente: ela entra em casa e te impede de olhar pra fora da janela, a tv se oferece como janela; na internet não há conteúdo de antemão, dependendo do navegador, do sistema operacional, do provedor, etc., será oferecido algum conteúdo, no entanto há uma barra de procura, normalmente de fácil alcance - o q não há na tv - em q se pode pesquisar por qualquer termo legal. o facebook entra na internet se colocando sobre essa ideia de território livre, sobre esse aparente infinito de possibilidades oferecido por uma barra de procura; essa q ideia de transição livre por um território infinito foi trocado por estruturas fixas, os perfis e murais, pelas quais as pessoas transitam; nos firmamos dentro dessa construção, e ficamos parecendo aquelas mulheres q ficavam à janela olhando os homens passarem, porém, no facebook, todos estão à janela, parados, e as pessoas passam umas pelas outras como q movidas por esteiras, sem precisarem se esforçar, ñ há corpo envolvido, olhamos e olhamos, mas nem há olhar envolvido nessa caminhada: é virtual.
outro aspecto em q a internet quebra com a disputa entre público e privado é no acesso a filmes, músicas, e (coincidentemente?) os arquivos de mais fácil acesso são justamente aqueles mais protegidos, mais particulares, de empresas q procuram de todas as formas - envolvem leis, estados, polícias, tv, etc - pra defender o sua propriedade. a discussão não é quanto o acesso aos "seus" produtos, nem mesmo se leva em consideração esse sintoma de as pessoas estarem cada vez mais conquistando seus desejos por vias marginais através da internet - baixando filmes ilegalmente, divulgando fotos de suas provas do enem, de suas namoradas nuas fazendo boquete falando sacanagem. à moral, à publicidade, mostrar a vida privada só é permitido via grife, centraliza-se o gozo no ato da compra, no exercer o poder de jogar o dinheiro, essa merda, sobre o outro, e ñ se fala sobre gozar o produto com o outro, socialmente, em comunidade; ou mesmo sozinho, sem permissão, sem censura, por alegria, por amor.
Referência
Guattari, Felix. Revolução Molecular: pulsasões políticas do desejo. São Paulo: Brasiliense, 1987.
apesar de serem informadas pela tv, pela internet, pelos fiscais durante as provas, pelos professores nas aulas, muitos alunos ainda insistem em bater fotos com seus celulares,da prova do enem.
talvez até acreditem q ñ serão flagrados.
duas questões me chamam a atenção: por um lado, uma espécie de descuido, fazem que não foram informadas sobre tal regra, auto-sabotagem, ato falho, etc; por outro lado isso de não ligarem pras consequências, quase como se a vontade de obter bom resultado no enem, e com isso conquistar o que deseja - entrar na universidade pública -, ñ fosse maior q a vontade de descumprir a regra, de se arriscar. como qm parece ter menos medo de um acidente de carro em ato do q o gozo obtido por dirigir rapidamente; ironicamente é necessário q se crie mecanismos pra q pessoas ñ se arrisquem, ameçando-o com multas q retirariam-lhe os bens, o dinheiro, o poder de compra, o poder; no entanto, há potência sem vida? talvez na filosofia, na literatura, nas artes, mas não no trânsito.
a regra q tá sendo quebrada no caso do enem é de divulgação da imagem da prova do enem e do cartão de respostas. é proibido tornar público, via facebook, esse documento que é privado, a prova. Felix Guattari (1987) discute essa relação entre o privado e o público em "As lutas do desejo e a psicanálise", no livro Revoluão molecular, e afirma aforisticamente: "Enquanto se mantiver uma distinção absoluta entre a vida privada e a vida pública, não se avançará nenhum passo!" (p.25).
As prova do enem, do vestibular, dos concursos de ingresso tanto na universidade quanto em cargos públicos, são testes de passagem prum novo estágio da vida, de como ele aparece pros outros, pro público, um novo estágio da vida pública. quando um adolescente sai do ensino médio e ingressa na universidade deixa de ser, pra família, pros amigos, pros policiais, pras livrarias, etc, somente um estudante, se torna acadêmico, universitário; um concursado deixa se tornar um simples trabalhador civil, um empregado q vende desesperado sua mão de obra com pelo pavor do desemprego, da fome, e da morte sua e de seus familiares (Guattari, 1987. p.13) pra se tornar funcionário efetivo da máquina burocrática do estado, agora este sujeito recebe, sem o medo da fome, da miséria, de ser mal-visto, dinheiro pra manter o estado.
O acontecimento da prova, estar sentado em uma sala, cheio de gente, fazendo a mesma prova, etc, e todos os outros momentos anteriores e seguintes à prova são públicos, fazer a prova é privado, e isso não pode ser compartilhado. o sujeito que faz a prova deve fazer sozinho, mesmo tendo outras trinta pessoas na mesma sala. estas, aliás, são adversárias, concorrentes, pretendentes de uma mesma vaga, e devem ser "eliminadas", e há regras nesta luta, como em toda outra guerra, uma delas é não divulgar documentos privados: o cartão resposta, a prova.
o facebook é como uma janela pruma via pública, tão movimentada quanto a quantidade de "amigos" que se tem à lista do site. mas um outro olho, q ñ o nosso, ñ dos amigos, um olho sinistro olha de fora pra dentro dessa nossa janela, e tudo o que se mostra por essa janela, por esse mural, este olho não só vê, memoriza: os arquivos dos perfis do facebook, também do google, etc. a internet funciona assim: nos expomos porque queremos, estamos nos dispomos, nos colocamos disponíveis. como mídia a tv tem uma lógica diferente: ela entra em casa e te impede de olhar pra fora da janela, a tv se oferece como janela; na internet não há conteúdo de antemão, dependendo do navegador, do sistema operacional, do provedor, etc., será oferecido algum conteúdo, no entanto há uma barra de procura, normalmente de fácil alcance - o q não há na tv - em q se pode pesquisar por qualquer termo legal. o facebook entra na internet se colocando sobre essa ideia de território livre, sobre esse aparente infinito de possibilidades oferecido por uma barra de procura; essa q ideia de transição livre por um território infinito foi trocado por estruturas fixas, os perfis e murais, pelas quais as pessoas transitam; nos firmamos dentro dessa construção, e ficamos parecendo aquelas mulheres q ficavam à janela olhando os homens passarem, porém, no facebook, todos estão à janela, parados, e as pessoas passam umas pelas outras como q movidas por esteiras, sem precisarem se esforçar, ñ há corpo envolvido, olhamos e olhamos, mas nem há olhar envolvido nessa caminhada: é virtual.
outro aspecto em q a internet quebra com a disputa entre público e privado é no acesso a filmes, músicas, e (coincidentemente?) os arquivos de mais fácil acesso são justamente aqueles mais protegidos, mais particulares, de empresas q procuram de todas as formas - envolvem leis, estados, polícias, tv, etc - pra defender o sua propriedade. a discussão não é quanto o acesso aos "seus" produtos, nem mesmo se leva em consideração esse sintoma de as pessoas estarem cada vez mais conquistando seus desejos por vias marginais através da internet - baixando filmes ilegalmente, divulgando fotos de suas provas do enem, de suas namoradas nuas fazendo boquete falando sacanagem. à moral, à publicidade, mostrar a vida privada só é permitido via grife, centraliza-se o gozo no ato da compra, no exercer o poder de jogar o dinheiro, essa merda, sobre o outro, e ñ se fala sobre gozar o produto com o outro, socialmente, em comunidade; ou mesmo sozinho, sem permissão, sem censura, por alegria, por amor.
Referência
Guattari, Felix. Revolução Molecular: pulsasões políticas do desejo. São Paulo: Brasiliense, 1987.
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