Os 3 bichos maus do amor. Inclusive eu.

Existem 3 coisas (podem existir mais, mas existem essas 3 coisas) - fortemente interligadas - que causam qualquer, ou melhor, todas as tristezas em um relacionamento amoroso (porque em outros tipos de relacionamento, mesmo que existam tais coisas, elas são mais facilmente reclamas e negadas): posse, dependência e, por conseqüência, o ciúme.
Quem possui ama alguém porque o tem. A alegria vem do reconhecimento de que o outro é dele. O sujeito possessivo, por mais que insista que sim, não se alegra com a felicidade do outro, mas com os sacrifícios que o outro dedica para ser, o tempo todo, dele. O outro é dependente do possessivo. O possessivo se enciúma quando o outro o ameaça a depender de uma terceira pessoa; o possessivo não suporta a ideia de seu objeto amado abraçar uma terceira pessoa mais alegremente do que é abraçado por ela (mesmo sabendo que é abraçado toda semana, e sem considerar que a terceira pessoa pode não ter sido abraçada há meses ou anos); o possessivo sente o rancor ciumento dos dois - odeia quem o ameaça ser substituído, eodeia a pessoa amada por parecer não querer mais depender dele.
Discurso do dependente: "não vivo sem você", "sem você eu não sou ninguém", "minha alegria é só você". O sujeito dependente projeta no amado toda a sua razão de alegria - como se toda a alegria dependesse apenas de amor - e acaba por obrigar o amadi a estar sempre com ele, ou no mínimo estar sempre a disposição dele; tira do amado toda a beleza do desejo de se estar junto ("não estou contigo porque eu preciso, mas porque eu quero). A alegria do sujeito dependente se torna muitomais uma paixão triste* (como um vício) do que uma alegria ativa, consciente. O ciúme de quem depende não reside tanto no desejo de exclusividade, mas no medo de se ficar sozinho, abandonado; "não importa tanto que meu amado goste e até prefira fazer outras coisas,estar com outras pessoas, desde que ele volte pra mim, cuide de mim, me ama e me faça feliz". Como o possessivo, o dependente é narcisista - não ama o amado pelo amado, mas porque amar o amado o deixa feliz - "eu, e tão somente eu feliz: seja feliz porque eu sou feliz".
Em ambos os casos o pensamento é o mesmo: "seja feliz porque eu sou feliz"; "você deveria ficar feliz por me fazer feliz. É uma alegria temporária, fraca e narcisista (e por essa razão que os relacionamentos esfriam, caducam, porque acham que o outro deve lhe fazer feliz o tempo todo): por mais que se aposte no outro (desculpa para ter ciúmes) a felicidade, no fim, "só importa que eu seja feliz".
Apenas quando diluímos, e finalmente excuímos esses 3 males (e com eles a própria noção do eu, porque no amor não pode existir nem eu e nem tu, e sim acontecimentos alegres, desejos ativos) se pode, enfim, amar verdadeiramente, ativamente, sem razão nenhuma, e por isso, por todos os motivos possíveis.

*Sobre alegria ativa, paixão triste e outros conceitos lindos leiam "Espinosa- Filosofia prática" do Deleuze.

Referências:
BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. 2003.
DELEUZE, Gilles. Espinosa: Filosofia prática. 1981.

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Ceyron Louis

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1 comentários:

Matheus Wendt disse...

Essa é uma dialética que sempre foi, e possivelmente sempre será, de grande aprendizado e de importante compreensão.
Afinal, faz parte da natureza humana. O que nos diferencia dos animais, automaticamente nos rende algum problemas como este.
Para podermos lidar bem com isso, é fundamental que tenhamos consciência.
Curti demais o post! =)