de pouco em pouco eu fico sem amigos.
não tenho carinho.
vivo do intelecto agora, meu carinho é o cuidado com que escolho as palavras certas, literais, metáforas inéditas, coisas minhas, só minhas - é a forma como dou eu mesmo.
não sei mais gostar do que todos gostam.
não sei odiar o que todos odeiam.
apenas sei o que eu sei.
e sei pouquíssima coisa, por isso penso sobre tudo. e procuro pensar sobre tudo - desde cadeiras até hitler: nada mais é o que me disseram que era.
não existe realidade, tudo o que me vem passa pela minha percepção, e é ela que tem que ser trabalhada: quando trabalho minha percepção, trabalho a mim mesmo, trabalho meu mundo, trabalho tudo. no que eu trabalho - e por trabalhar digo desconstruir e construir de novo com outras fontes, ou as mesmas se assim convir - tudo vira nada, e eu fico com nada.
eu sinto muito amor, mas ninguém mais reconhece como amor.
por isso eu pergunto: eu fiquei louco? sei que não quero ser normal.
ser normal é seguir normas, regras, é ser obediente, ter preguiça de pensar. tenho preguiça de muita coisa, mas nunca vou ter preguiça de mim mesmo, de ser uma pessoa admirável pra mim mesmo.
é egoísmo, mas o amor é circular, ele tem que existir em mim para mim mesmo antes de chegar no outro, e isso que me deixa sozinho: ninguém mais ama a si mesmo.